Análises – Festa do Cinema Francês 2022
O festival dedicado a uma das mais vivas cinematografias no mundo, chegou à sua 23ª edição!
A Festa do Cinema Francês regressou de 26 de Outubro a 20 de Novembro, numa edição em que foram apresentados mais de 70 filmes de diferentes géneros e estilos cinematográficos.
O festival percorreu dez cidades do país: Lisboa, Almada, Oeiras, Coimbra, Porto, Évora, Viseu, Faro, Lagos e Funchal.
Neste artigo, iremos analisar alguns dos filmes visualizados no programa deste ano.
Simone – A Viagem do Século
Iniciamos com “Simone – A Viagem do Século”, de Olivier Dahan, neste filme viajamos pela história de vida de Simone Veil através dos eventos cruciais do século XX. A sua infância, as suas batalhas políticas, as suas tragédias.
Trata-se de um retrato íntimo e épico de uma mulher extraordinária que desafiou e transformou a sua época defendendo uma mensagem humanista profundamente relevante.
Num misto de esperança e melancolia, esta obra trabalha muito bem a iluminação, a fotografia e a banda sonora, dando ênfase às diferentes fases da vida de Simone.
Outros comentários pareciam achar as linhas do tempo confusas, saltando do seu futuro para o passado. No meu caso, achei bastante útil para o argumento. Em vez de assistir ao desenrolar da vida, conseguimos entender, não seguindo a cronologia normal, pelo que a protagonista lutou antes de entender por que ela lutou.
Nota final: 8/10
Adeus Senhor Haffmann
Em segundo lugar, após ter conquistado a crítica e o público na estreia francesa, com 1,3 milhão de euros arrecadados nos primeiros 7 dias, o drama “Adeus Senhor Haffmann”, do cineasta francês Fred Cavayé, é um intenso thriller psicológico em plena segunda guerra mundial.
O desenvolvimento do enredo é inteligente, a simpatia do público vai-se afastando do protagonista. As reviravoltas/ plot twists na história são bem pensados, com várias revelações que adicionaram profundidade e imersão ao filme.
Aprendemos que a ganância é uma terrível conselheira.
Nota final: 7/10
Toda a Gente Gosta de Jeanne
Seguimos com “Toda a Gente Gosta de Jeanne”, uma coprodução entre a Les Films du Worso e a produtora portuguesa O Som e a Fúria, é a primeira longa-metragem da realizadora Céline Devaux, e teve a sua estreia mundial na Semana da Crítica do Festival de Cannes.
É um filme audaz no seu conteúdo, que desafia as convenções da típica comédia romântica através de um ótimo trabalho de escrita de argumento e aborda temáticas como a saúde mental, a depressão e o luto de forma atual e singular, sem recorrer a clichés e dramatismos desnecessários.
Nota final: 7/10
Fomos Feitos Um para o Outro
“Fomos Feitos Um para o Outro”, é um filme de Pascal Elbé.
Fala-nos de Antoine, um homem na casa dos cinquenta anos, que descobre que está a perder a audição. Sem assumir a sua deficiência, este professor de história resignou-se a viver na sua bolha, mesmo que isso signifique causar mal-entendidos. O seu encontro com Claire, uma viúva e mãe de uma menina muda, vai levá-lo a abrir-se para o mundo.
É uma comédia leve, com um argumento simples mas coeso no seu todo, causa reflexões acerca do quão duros podemos ser connosco e com os outros.
Nota final: 6/10
Madeleine Collins
“Madeleine Collins”, realizado por Antoine Barraud, é uma longa metragem de espelhos, para quem foge deles.
Judith mantém um jogo de mentiras sem que o marido se dê conta, o segredo da protagonista vai além da vida dupla e interage com as tensões do espectador. Esta obra começa como um drama, mas, a partir do seu meio, apresenta revelações em sequência, imprimindo muito suspense. Segue rumos totalmente inesperados num ritmo avassalador.
Nota final: 6/10
À Espera de Bojangles
Terminamos com “À Espera de Bojangles”, um filme de Régis Roinsard.
Sob o olhar maravilhado do seu jovem filho, um casal dança o Mr. Bojangles de Nina Simone. O seu amor é mágico, vertiginoso, uma festa perpétua. Em casa deles só há lugar para o prazer, para a fantasia, para os amigos.
É um amor solto, livre e louco. Como deve ser.
Pode-se dizer que o filme estabelece uma tensão entre a imaginação e a realidade, situando uma como infinita e a outra como naturalmente áspera.
É um filme elevado que eleva sentimentos.
Nota final: 8/10
Ansiosamente aguardamos pelo próximo ano, para que a falar de cinema se fale do mundo!
Atriz e professora. Da marginalidade à pureza gosto de sentir tudo. Alcanço o clímax na escrita. Sacio-me com a catarse no teatro. Adiciona-se uma consola, um lightsaber, eye makeup quanto baste e estou pronta a servir.*De fundo ouve-se Fix of Rock’n’Roll, de The Legendary Tigerman*