Análise BD – “Mattéo: Segunda Época ( 1917 – 1918)” – Não passamos de uns pretensiosos indignados
“Mattéo” é uma série da autoria de Jean-Pierre Gibrat, editada pela Vitamina BD, os dois primeiros álbuns pelo menos – Primeira Época (1914-1915) e Segunda Época (1917-1918) em 2009 e 2011, um ano após cada um dos lançamentos originais
Jean-Pierre Gibrat nasceu em Paris em abril de 1954. No seu currículo constam publicações como o “Le Nouvel Observateur”, “L´Événement”, “Science et Avenir” e as revistas infantis “Je Bouquine” e “Okapi”. A partir dos anos 90, a obra de Gibrat regista uma tendência mais adulta, incluindo-se nesta fase as obras “Pinocchia” (1995, com argumento de Francis Leroi) e “Maré Baixa” (1996, com argumento de Daniel Pecqueur).
Neste segundo volume da obra, depois de se difundir pela guerra, Mattéo descobre o fascínio pela anarquia e pelo comunismo, num excelente argumento, discutem-se ideologias, planos de ação e de carater das diferentes personagens. O ponto de aliança é a emergência da revolução a qualquer custo, o que torna tudo isto numa utopia de fardas sanguinárias.
Na camada visual, Gibrat não desilude, os tons pastel predominam, destaca-se o realismo do traço, preocupado com as posturas e a cadência das figuras, do burguês gordo ao cadáver do jovem soldado. Este cinismo do passado prostrado no presente, é matéria necessária quando achamos um protagonista cujo destino o irá levar aos principais conflitos do século XX, desde da Primeira Grande Guerra até à Segunda, passando pela Revolução Russa e ainda pela Guerra Civil Espanhola.
A vénia à emoção é um gesto patente na BD, afinal lemos páginas que retratam amor e sacrifícios. Porém é muito interessante notar que no meio de horrores e brutalidades, para além dos choros de clemência, o ilustrador dá tempo de antena à sensualidade destes momentos, desde o nu feminino aos corpos calejados de quem virou prisioneiro antes de ser pessoa. Os painéis de dimensões largas ajudam na pormenorização destes aspetos e prometem existências ao leitor, obviamente pelos maravilhosos diálogos e pensamentos cambaleantes, mas igualmente pela sinceridade do jogo dramático entre o perder e o ganhar de um lugar e de uma época.
Jean-Pierre Gibrat dedica-se à universalidade dos comportamentos humanos aqui, testa-os nas suas caricaturas, e de um modo preciso e elegante relembra-nos que nem tudo vale a pena, mas que o glamour da tentativa origina colheitas.
Autor: Jean-Pierre Gibrat
Ilustração: Jean-Pierre Gibrat
Género: Banda Desenhada, Romance Histórico
Editora: VitaminaBD
Argumento: 8
Arte: 9
Legendagem: 6
Veredito final: 8
A obra “Mattéo: Segunda Época ( 1917-1918)”, foi cedida simpaticamente pela Mbooks – a maior armazenista de livros em saldo em Portugal.
Atriz e professora. Da marginalidade à pureza gosto de sentir tudo. Alcanço o clímax na escrita. Sacio-me com a catarse no teatro. Adiciona-se uma consola, um lightsaber, eye makeup quanto baste e estou pronta a servir.*De fundo ouve-se Fix of Rock’n’Roll, de The Legendary Tigerman*